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A mostrar mensagens de 2011

Poema de Natal... Vinicius de Moraes

Poema de Natal Vinicius de Moraes Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.

Embora os Meus Olhos Sejam...António Aleixo

Embora os meus olhos sejam os mais pequenos do mundo o que importa é que eles vejam o que os homens são no fundo Que importa perder a vida na luta contra a traição se a razão mesmo vencida não deixa de ser razão Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo calai-vos que pode o povo querer um mundo novo a sério Eu não tenho vistas largas nem grande sabedoria mas dão-me as horas amargas lições de filosofia. António Aleixo

Tempos....poema de Pedro du Bois

 Avesso ao calendário traço no espaço o tempo onde me distraio: sei do amanhecer que me acorda do meio dia que me alimenta da tarde propícia à tormenta da noite em que me desoriento revisito o tempo na capa da magia e me refugio em mim mesmo mantenho o som do rádio e me delicio em estáticas: olhos fechados imagino a cena na tela despegada.   Pedro Du Bois 
  Pense profundamente Fale gentilmente Ame bastante Ria frequentemente Trabalhe com afinco Dê com generosidade Pague pontualmente Ore fervorosamente E seja bom... (Elmer Wheeler)

O Amor é uma Companhia .....Alberto Caeiro

O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. Alberto Caeiro  

O sol nas noites e o luar nos dias...................Natália Correia

De amor nada mais resta que um Outubro e quanto mais amada mais desisto: quanto mais tu me despes mais me cubro e quanto mais me escondo mais me avisto. E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, por fora te ajoelho, corpo místico. Não me acordes. Estou morta na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem. Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carne queres reter-me jovem. Natalia Correia
"Às vezes, mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor. Às vezes, é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar nem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar." A companhia certa é aquela que sabe aquecer-nos a alma antes de sequer tocar-nos no corpo. Autor: Margarida Rebelo Pinto

Ilhas de Bruma.... José Ferreira

  "Ainda sinto os pés no terreiro, Que os meus avós bailavam o pézinho É que nas veias corre-me basalto negro E na lembrança vulcões e terramotos. Por isso é que sou das ilhas de bruma, Onde as gaivotas vão beijar a terra Se no falar trago a dolência das ondas O olhar é a doçura das lagoas É que trago a ternura das hortênsias E no coração a ardência das caldeiras. Por isso é que sou das ilhas de bruma, Onde as gaivotas vão beijar a terra Trago o roxo a saudade esta amargura E só o vento me ecoa na lonjura Mas trago o mar imenso no meu peito E tanto verde a indicar-me a esperança. Por isso é que eu sou das ilhas de bruma, Onde as gaivotas vão beijar a terra É que nas veias corre-me basalto negro No coração a ardência das caldeiras. O mar imenso me enche a alma, E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança. Por isso é que sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra" JOSÉ FERREIRA

O AMOR

O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará.

A Sofreguidão de Um Instante..... poema de José Jorge Letria

Tudo renegarei menos o afecto, e trago um ceptro e uma coroa, o primeiro de ferro, a segunda de urze, para ser o rei efémero desse amor único e breve que se dilui em partidas e se fragmenta em perguntas iguais às das amantes que a claridade atordoa e converte. Deixa-me reinar em ti o tempo apenas de um relâmpago a incendiar a erva seca dos cumes. E se tiver que montar guarda, que seja em redor do teu sono, num êxtase de lábios sobre a relva, num delírio de beijos sobre o ventre, num assombro de dedos sob a roupa. Eu estava morto e não sabia, sabes, que há um tempo dentro deste tempo para renascermos com os corais e sermos eternos na sofreguidão de um instante. José Jorge Letria

Meu Amor...poema de Florbela Espanca

De ti somente um nome sei, amor. É pouco, é muito pouco e é bastante Para que esta paixão doida e constante Dia após dia cresça com vigor! Como de um sonho vago e sem fervor Nasce uma paixão assim tão inquietante! Meu doido coração triste e amante Como tu buscas o ideal na dor! Isto era só quimera, fantasia, Mágoa de sonho que se esvai num dia, Perfume leve dum rosal do céu... Paixão ardente, louca isto é agora, Vulcão que vai crescendo hora por hora... O meu amor, que imenso amor o meu! FLORBELA ESPANCA

Gostava de Ser Quem Era ........poema de Amália Rodrigues

Tinha alegria nos olhos Tinha sorrisos na boca Tinha uma saia de folhos Tinha uma cabeça louca Tinha uma louca esperança Tinha fé no meu destino Tinha sonhos de criança Tinha um mundo pequenino Tinha toda a minha rua Tinha as outras raparigas Tinha estrelas tinha a lua Tinha roda de cantigas Gostava de ser quem era Pois quando eu era menina Tinha toda a Primavera Só numa flor pequenina Amália Rodrigues    

Eu Podia Escolher..... Poema de Toon Tellegen ( Países Baixos)

Não tinha ideia. Escolhi a paz. A verdade e a beleza deixei-as ir, e também a sageza e a nostalgia - até o amor, que tão embevecido me olhava, negras nuvens com ele se deslocavam. Paz, era paz. E nos recônditos da minha alma dançavam seres de que nunca tinha sequer ouvido! E no céu pendia um outro sol. Tradução de : Fernando Venâncio do livro " Rosa do Mundo "

Divino Poema Erótico....de Drummond de Andrade

‘Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!

Porque ... Sophia de Mello Breyner Andersen

Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão Porque os outros têm medo mas tu não Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. Sophia de Mello Breyner Andresen

Pedaços de Mim...poema de Martha Medeiros

 Eu sou feito de Sonhos interrompidos detalhes despercebidos amores mal resolvidos Sou feito de Choros sem ter razão pessoas no coração atos por impulsão Sinto falta de Lugares que não conheci experiências que não vivi momentos que já esqueci Eu sou Amor e carinho constante distraída até o bastante não paro por instante Já Tive noites mal dormidas perdi pessoas muito queridas cumpri coisas não-prometidas Muitas vezes eu Desisti sem mesmo tentar pensei em fugir,para não enfrentar sorri para não chorar Eu sinto pelas Coisas que não mudei amizades que não cultivei aqueles que eu julguei coisas que eu falei Tenho saudade De pessoas que fui conhecendo lembranças que fui esquecendo amigos que acabei perdendo Mas continuo vivendo e aprendendo. Martha Medeiros

Pobres dos Nossoa Ricos....poema de MIA COUTO

  A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de

Envelhecer ..... Hermann Hesse

 Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.   Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.  O dinheiro não era nada, o poder não era nada.   Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.   A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.   Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente.   Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.   A felicidade é amor, só isto.   Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. Mas amar e desejar não é a mesma coisa. O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. O amor não quer possuir. O amor quer somente amar. Hermann Hesse

Livros e Flores..... Machado de Assis

Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia A página do amor? Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor, Em que melhor se beba O bálsamo do amor? Machado de Assis

O Sol nas Noites e o Luar nos Dias.... Natália Correia

De amor nada mais resta que um Outubro e quanto mais amada mais desisto: quanto mais tu me despes mais me cubro e quanto mais me escondo mais me avisto. E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, por fora te ajoelho, corpo místico. Não me acordes. Estou morta na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem. Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carne queres reter-me jovem. Natalia Correia

Lúbrica....poema de Cesário Verde

  Mandaste-me dizer, No teu bilhete ardente, Que hás-de por mim morrer, Morrer muito contente. Lançaste no papel As mais lascivas frases; A carta era um painel De cenas de rapazes! Ó cálida mulher, Teus dedos delicados Traçaram do prazer Os quadros depravados! Contudo, um teu olhar É muito mais fogoso, Que a febre epistolar Do teu bilhete ansioso: Do teu rostinho oval Os olhos tão nefandos Traduzem menos mal Os vícios execrandos. Teus olhos sensuais Libidinosa Marta, Teus olhos dizem mais Que a tua própria carta. As grandes comoções Tu, neles, sempre espelhas; São lúbricas paixões As vívidas centelhas… Teus olhos imorais, Mulher, que me dissecas, Teus olhos dizem mais, Que muitas bibliotecas! Cesário Verde

O Objecto....poema de Ary dos Santos

Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são. Se for um copo é um copo se for um cão é um cão. Mas quando o copo se parte e quando o cão faz ão ão? Então o copo é um caco e um cão não passa dum cão. Quatro cacos são um copo quatro latidos um cão. Mas se forem de vidraça e logo foram janela? Mas se forem de pirraça e logo forem cadela? E se o copo for rachado? E se o cão não tiver dono? Não é um copo é um gato não é um cão é um chato que nos interrompe o sono. E se o chato não for chato e apenas cão sem coleira? E se o copo for de sopa? Não é um copo é um prato não é um cão é literato que anda sem eira nem beira e não ganha para a roupa. E se o prato for de merda e o literato de esquerda? Parte-se o prato que é caco mata-se o vate que é cão e escreveremos então parte prato sape gato vai-te vate foge cão Assim se chamam as coisas pelos nomes que elas são. Ary dos Santos

Mudam-se os Tempos...Mudam-se as Vontades..... LUIS VAZ DE CAMÕES

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía. Luís de Camões

A Nossa Casa...poema de José Maria Lopes de Araújo

Há-de ser pequenina a nossa casa, Tão pequenina que não entre a dor … Nela haverá somente o nosso amor , Tão amplo como o voo duma asas ! … E no lar há-de haver sempre uma brasa, Para aquecer os pobres do Senhor, Que hão-de sentir carinho, amparo, amor, Na santa pequenez da nossa casa ! … Só tu e eu … eu e tu … e mais ninguém … E teremos a ventura de quem tem Na vida o bem maior que pode haver ! … Mas, esse bem será maior ainda, Quando esperarmos, numa ânsia infinda, O filho que depois há-de nascer ! … José Maria Lopes de Araújo

Poema Sobre a Vida .... Charles Chaplin

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito? Charles Chaplin

O Que Há .... poema de Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço – Não disto nem daquilo, Nem se quer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo. Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém. Essas coisas todas – Essas e o que falta nelas eternamente – : Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvidas quem ame o infinito, Há sem dúvidas quem deseje o impossível, Há sem dúvidas quem não queira nada – Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo

Nega-me Tua Alma...poema de Fernando Campanella

Nega-me tua alma – Esta minha alma mesma Que me furtas - E é o degredo irremediável que, em troca, me concedes. Nega – me tua chama Que tremula no delírio dos deuses, Teu anjo, que ressona no silêncio dos lagos, Nega-me, nega-me tua espuma Que regurgita no sonho das aves (eu sou o teu infante pássaro) E é sem minhas fontes que me deixas, Sem meu ar extasiado. Nega-me teu mar, tua tempestade, O sonho e a fantasia, E me deixas a seco ,ao sal amargo De cada dia. Nega-me teu olhos e já triste não me enxergo Que a felicidade, embora utopia das sombras, É também certa luz incidente Que só de teu olhar meus olhos como bênção recebem. Fernando Campanella

Geração à Rasca Foi a Minha...... (Desconheço o Autor)

Geração à rasca foi a minha. Foi uma geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente ou pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social. Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%. Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra. Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc. A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.

Se as minhas mãos pudessem desfolhar....Garcia Lorca

Eu pronuncio teu nome nas noites escuras, quando vêm os astros beber na lua e dormem nas ramagens das frondes ocultas. E eu me sinto oco de paixão e de música. Louco relógio que canta mortas horas antigas. Eu pronuncio teu nome, nesta noite escura, e teu nome me soa mais distante que nunca. Mais distante que todas as estrelas e mais dolente que a mansa chuva. Amar-te-ei como então alguma vez?  Que culpa tem meu coração? Se a névoa se esfuma, que outra paixão me espera? Será tranqüila e pura? Se meus dedos pudessem desfolhar a lua!! Garcia Lorca

poema de Luiz Alfredo

Naquele tempo eu acreditava no amor Deus era a própria natureza o colibri a flor tinha namorada e lhe mandava uma margarida e um poema de pura paixão comia chocolates de amêndoas nas tardes quentes de P.V assistia o balé das andorinhas tomando tacacá com murupi caminhava feliz mesmo com toda a ditadura tinha cabelos compridos desenhava cogumelos coloridos com lápis de cera e borboletas com hidrocores depois as libertava na minha imaginação fumava meu cigarro industrial livremente comia meu cachorro-quente alienado com refrigerante artificial açucarado andava pela estrada de ferro madeira-mamoré curtia o pôr do sol no madeira dançava com os botos encantados encarnados pela água amarela hoje não tenho mais namorada apenas um mal me quer despetalado afogado espetado no vaso decaído pro lado da sombra as andorinhas e os botos foram extintos o Deus natureza foi morto na universidade a democracia restringiu quase tudo a madeira-mamoré e o pô

Ausência....poema de José Carlos Moutinho

Ouço a minha voz no silencio do meu desejo, Que clama, ansiosa tua presença... Quero sentir a doçura de teu beijo, Não suporto mais tua ausência. Simbiose de sonhos e ilusões, Turbilhão de sentimentos... Momentos de muitas emoções, Neste mundo louco de sofrimentos. Estranhos caminhos se cruzam, por vielas enviesadas de tristeza... Quiçá, com o tempo se reduzam, A felicidade virá, tenho a certeza. Ideias e consciências trocadas, Mistério insondável,humano... Situações complexas, baralhadas inexoráveis neste mundo profano. Ah coração louco, inquieto, Trazes minha alma em desassossego... Tão somente quero afecto, alguém que me abrace, sem medo. JOSÉ CARLOS MOUTINHO

Estigma...Ary dos Santos

Filhos dum deus selvagem e secreto E cobertos de lama, caminhamos Por cidades, Por nuvens E desertos. Ao vento semeamos o que os homens não querem. Ao vento arremessamos as verdades que doem E as palavras que ferem. Da noite que nos gera, e nós amamos, Só os astros trazemos. A treva ficou onde Todos guardamos a certeza oculta Do que nós não dizemos, Mas que somos. Ary dos Santos

Timidez....poema de Maria Alberta Menére

O bicho-de-conta Faz de conta, faz Que é cabeça tonta Mas lá bem no fundo Não é mau rapaz. Se a gente lhe toca, Logo se disfarça: Veste-se de bola. Por mais que se faça Não se desenrola. Lá dentro escondendo Patinhas e rosto É todo um segredo: Se eu fosse menino Comigo brincava Sem medo sem medo. Maria Alberta Menére

Nesse Gesto de Carinho..... poema de Vitor Cintra

Nesse gesto de carinho, que irradia um perfume a rosmaninho, que inebria, há um corpo de mulher, que me abraça, e um desejo que, ao crescer, me embaraça. Há um rosto que eu afago, com ternura, e uns labios que me beijam, com doçura. E no fogo que, entre os corpos, se acendeu, há um mundo de mistérios, todo meu. VITOR CINTRA

Pode Ser...Amizade...... de Albert Einstein

Pode ser que um dia deixemos de nos falar... Mas, enquanto houver amizade, Faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe... Mas, se a amizade permanecer, Um de outro se há-de lembrar. Pode ser que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, A amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos... Mas, se ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre. Albert Einstein

Segredo...poema de Miguel Torga

Sei um ninho. E o ninho tem um ovo. E o ovo, redondinho, Tem lá dentro um passarinho Novo. Mas escusam de me atentar: Nem o tiro, nem o ensino. Quero ser um bom menino E guardar Este segredo comigo. E ter depois um amigo Que faça o pino A voar... Miguel Torga

Letra de Um Hino,,,poema de Manuel Alegre

  É possível falar sem um nó na garganta. É possível amar sem que venham proibir. É possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão. É possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece dizer não, grita comigo: não! É possível viver de outro modo. É possível transformar em arma a tua mão. É possível viver o amor. É possível o pão. É possível viver de pé. Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre, livre, livre. Manuel Alegre

Hei-de ..... Maria José Fraqueza

Hei-de... ser muito forte como o vento Hei-de... ser muito forte como o mar! Hei-de... extrair o mal do pensamento Hei-de... ter novas forças para Lutar! Hei-de... suportar este meu lamento Hei-de... ter só sorrisos para te dar Hei-de... tornar mais belo o sentimento Hei-de... ter coração para te amar! Hei-de... manter no peito esta grandeza Hei-de... deter a mágoa, a agonia... Hei-de... dar-te o meu mundo de pureza Hei-de... compor para ti minha poesia! Hei-de...chegar talvez à eternidade? Hei-de... ter sempre o meu dom divinal Hei-de... ser um Luzeiro da Verdade Hei-de... combater fortemente o Mal! Hei-de... ser o farrapo que tu pisas? Hei-de... ter maior força de vontade Hei-de... dar-te o conforto que precisas Hei-de... ser teu brasão de liberdade! Hei-de... ser real musa de florais Hei-de... desabrochar tal como a flor Hei-de... beber em fontes naturais Hei-de sorver o aroma deste amor! Hei-de ... ser teu refúgio na dor Hei-de... ser sempre a tua companhia

Súplica.....poema de Miguel Torga

Agora que o silêncio é um mar sem ondas, E que nele posso navegar sem rumo, Não respondas Às urgentes perguntas Que te fiz. Deixa-me ser feliz Assim, Já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto O nosso amor Durou. Mas o tempo passou, Há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria Matar a sede com água salgada   MIGUEL TORGA

Outra Margem...Maria Rosa Colaço

E com um búzio nos olhos claros Vinham do cais, da outra margem Vinham do campo e da cidade Qual a canção? Qual a viagem? Vinham p’rá escola. Que desejavam? De face suja, iluminada? Traziam sonhos e pesadelos. Eram a noite e a madrugada. Vinham sozinhos com o seu destino. Ali chegavam. Ali estavam. Eram já velhos? Eram meninos? Vinham p’rá escola. O que esperavam? Vinham de longe. Vinham sozinhos. Lá da planície. Lá da cidade. Das casas pobres. Dos bairros tristes. Vinham p’rá escola: a novidade. E com uma estrela na mão direita E os olhos grandes e voz macia Ali chegaram para aprender O sonho a vida a poesia. Maria Rosa Colaço (poema musicado pelos Trovante no álbum «Baile no Bosque», 1981)