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A mostrar mensagens de dezembro, 2005

SIDÓNIO BETTENCOURT do Livro " Deserto de Todas as Chuvas "

DA NOITE DE NATAL Gelada rua em que deste vida à saudade. Nem as pedras da casa onde despimos a família deserta e o desassossego das nossas consumições espalhadas nas poças de água e mágoa, levadas pelo vento oeste. Nem as folhas secas em São Francisco, caindo uma a uma, entre os barcos do peixe que o Inverno varou, medrosos e recolhidos no abraço da cruz. Há luzes no cruzeiro, cintilantes. Fazem lembrar faróis da América. Aquela que nos repartiu a urgência do regresso. E assim ficamos à espera na pequenez do compromisso. Na ânsia de te encontrar, perdi o sabor do rosto. Está escura a noite e pesarosos os sinos que me chamam no teu regaço. Para o abrigo da tua manta cor de anjo e de mistério. A missa do galo é na Silveira. Este ano é assim. Longe das nossas promessas. Longe dos nossos pecados. Inventaram um novo roteiro para recolhermos mais cedo na madrugada do menino. Cada um com o seu menino. Nem aqui, tão perto, o nosso beijar entre a manjedoura desfeita, a

JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO Poema * Natal Que Volta *

NATAL QUE NÃO VOLTA... Antigamente, Quando a vida me sorria, No tempo em que brincava, E alegremente Corria E saltava… Nesse tempo em que solteiro de ilusões Acreditava Nas fadas E nos Papões… Enfim, Antigamente, A vida para mim Era bem diferente! … ***** O Meu Jesus Trazia-me sempre um presente… Um lindo brinquedo Que eu pedia Muito em segredo! … … E recebia-o contente ! … ******* Como outrora, Eu quisera Agora – - Doce quimera – - De novo encontrar Não um brinquedo lindo Que me pudesse encantar… Mas, um pouco de beleza E um pouco de alegria Que viessem aliviar Esta funda tristeza … A minha melancolia … ****** E de manhã de manhãzinha, Devagar, pé-ante-pé, Eu corri à chaminé! … E o meu sapato, Nessa manhã ainda escura, Nessa manhã de frio E esmaecida, Lá estava, nu , vazio, Como anda vazia e nua De ventura A minha vida ! … ******* E a minha alma sismadora, E triste, Triste e sonhadora, Acalentou essa esperança Dos meus t

SIDÓNIO BETTENCOURT do livro " Deserto de Todas as Chuvas "

DESPEDIDA Fria a tarde e distante da beira praia num soluço de olhar fugidio entre o mar, céu e a nudez a fervilhar. Fria tarde esta, que não te sente os lábios e o fogo do teu corpo, quando te deixo sem regresso. Fria solidão, quando os teus braços se soltam do murmúrio. Fria e triste monotonia, e o Outono sem o brilho dos teus olhos, nos cabelos revoltos e revoltados, destes dedos que acendo. Ventre de dança, no corpo que animas e onde revejo os lugares escondidos do desejo. Quando agora partir, só tu me deixas ficar, e na boca cair uma lágrima de sede a cantar Bethânia, rolando no eco da minha voz, desafinada e rouca " Onde Estará o Meu Amor? " O amor. Sim, o amor. Quem o conforta, quem o aquece, quem o derrete? Fria tarde de tristeza funda. Sidónio Bettencourt "Deserto de Todas as Chuvas "

SIDÓNIO BETTENCOURT do livro * Deserto de Todas as Chuvas *

CARTA REGISTADA …Havia o infinito e o mar sobre nós, com sol nublado, e dei-te uma pedra negra que rolou do coração, para dentro do ano novo. Estavas de óculos cor-de-pedra, sentada no ano velho, como se eu tivesse regressado das lavadias brancas, com o teu véu cansado de noiva. Havia namorados que namoravam, e nós no percurso, sem nos vermos, a olhar um para o outro. Sabias a doce de mel salgado, e eu, a sal de abelha. Dizia amor e tu amora, silvestre. E a terra fria da mornaça de Janeiro, prescrevia o sonho a lacre de sangue fino e frio e pingos de coração, breve e magoado. Preenchemos então o desejo, que bebi dos teus silêncios. Deixaste-me tocar, nas tuas mãos secretas, leves e sem anéis brancos, ainda puras de tanto dar e receber. As tuas mãos de concha, dos filhos a crescerem. As tuas mãos esguias, das notas soltas do piano triste e adormecido. As tuas mãos quentes, dos recantos íntimos do nosso corpo, em sabor e desvario. As tuas mãos, que fizeram o calor do colo frio, da nossa

OCEANO

Fecho os olhos e ainda te vejo, Como esquecer aquele momento, Em que teu corpo, visitou minhas entranhas, Tua consciência, encontrou minha essência, Teu suor, se misturou em minha saliva, Meu coração, em tuas mãos. Como esquecer, Cada palavra dita, Cada gesto, de carinho ardente. Teu olhar fitando, o meu enxergar. Teu beijo, seduzindo minha boca. Teu querer, Dominando, o meu ser. Na vida, Mergulhamos nas emoções, e sentimentos, E com eles, partimos em grandes empreitadas. E é isso, que nos faz gente, Seres de alma, espírito e coração. Com você, aprendi a estar e ser plena, Com coragem suficiente, para mostrar a minha parte mais fraca, Que dela dependo, que dela também preciso. Como é preciso extravasar Todo esse amor que muitas vezes, ficamos contendo, Amor calado. Nada é mais quente, Que um abraço envolvido por carícias. Nada é mais profundo, que um beijo apaixonado. Nada é tão doce quanto o sorriso de teu rosto, Nada é tão pleno quanto a forma que me senti amada. Prazer,,, Pra ser… P

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA do Livro " MAR BRANCO "

AO MAR DO NORTE, MEU MAR BRANCO… Oh mar branco Do norte fundo Envolve minha alma inteira Enrola-me na tua espuma Inquieta e fugidia… Na onda de lua em praia Leva-me para além Do fundo azul Minha nocturna Vivência Que me invadiu de tormenta! Faz regressar minha esperança Naquela bruma de renda Dilui-me toda a saudade Em conchas De fogo vivo Nas chamas Do teu cadinho… Oh mar branco Enche a minh’alma Oh onda De vento deserto Marulha na areia quente Ecoa meu sofrimento Constante no turbilhão … No meu corpo dolente Sofro a vazante Da tua ausência Em cada instante … Oh vento Do mar do norte Regressa cindindo amor Na minha nascente dia primeiro Meu corpo em chama Entrou …. E nunca mais quis sair! FERNANDO MONTEIRO Poeta da Ilha de S.Maria - Açores Mar/81

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA do Livro " MAR BRANCO "

VOANDO…SEMPRE A VOAR Quem me suspende da dor No ar vazio Envolvido De ternura E de amor A tanta altura do mar? Quem estou sendo Afinal Se consigo suspender-me Só No sempre tempo Perdido Voando… sempre a voar? Voando sempre a voar: Da minha mente Fiz asas Do meu corpo O dia zero Que nunca mais Quis parar! Então quem sou afinal Se consegui Suspender-me Naquele tempo perdido Voando Sempre a voar Até ao mundo abraçar? - Consegui meter nos meus sonhos O todo Em tempo limite Do nada ao infinito E voando, voei voei Até minh’alma emprenhar Para o vazio De amor encher … Fernando Monteiro